sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Hasta siempre, Santiago



No dia 1º de maio de 2010 deixamos nossa casa em direção à realização de um dos nossos maiores sonhos – o Caminho de Santiago de Compostela, que começaria dois dias depois.

Foram seis meses de preparação para percorrer pouco mais de 800 km entre Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, até a Catedral de Santiago de Compostela, na capital da Galícia espanhola, onde está a cripta com os restos mortais de Tiago Maior, apóstolo de Cristo.
Não somos atletas, e sim pessoas comuns com determinação e desejo de conhecer, aprender, sentir, nos aproximar e mudar nossas vidas pela experiência de percorrer juntos um caminho milenar que atrai peregrinos de todo o mundo, pelos mais diversos motivos, desde os primórdios da Idade Média.

A primeira semana foi a mais difícil. Embora tenhamos viajado na primavera contando com bom tempo fomos recebidos com muito frio, chuva constante e até neve. Esta nos encontrou no alto dos Montes Pirineus, a natural e imponente fronteira franco-espanhola. Depois de 11 dias na estrada finalmente o sol apareceu, dando maior brilho às lindas paisagens e renovando nossas energias para seguirmos em frente.

Cada dia era um novo dia. Reflexão, tristezas, alegrias, reencontros, despedidas, muito vinho, roncos dos peregrinos (inclusivo nossos) nos albergues, desapegos, milagres e a constatação de que nunca estivemos sozinhos durante o percurso. Sentimos uma energia muito forte o tempo todo: o Supremo, o Todo-Poderoso, o mestre do Universo nos têm a todos na palma de sua mão.

Entre as várias lições vividas, algumas de fato valiosas e sabidas desde sempre, mas às vezes relegadas: a vida é curta e passa muito rápido meeesmo; devemos aproveitar AGORA tudo o que temos; nossa família e amigos são muito importantes; somos privilegiados pelo que temos e, a derradeira: felicidade combina com simplicidade.

Conhecemos, conversamos e convivemos com pessoas de vários países, com seus costumes, hábitos e culturas bem diferentes da nossa. A classe social, a religião, a cor da pele e a nacionalidade não tinham importância, como não devem mesmo ter. Todos éramos iguais. Simplesmente peregrinos com o mesmo objetivo: chegar.

Tentamos colocar em prática, diariamente, o companheirismo, a solidariedade, a humildade e o amor ao próximo tão próprios da peregrinação. Também aprendemos a conviver com a dor física, pois, como muito bem nos lembrou uma simpática hospitaleira da pequenina Población de Campos, “a maior dor é a da alma.”

Nossa chegada à catedral de Santiago foi coroada de emoções, a começar da data: 3 de junho, aniversário de 75 anos do meu sogro, Olavo. Rezamos e agradecemos por sua vida. Céu azul, sol radiante, alegria transbordante e muita, muita, muita gratidão.

Enquanto nos abraçávamos para dividir o êxtase da chegada, lágrimas escorriam silenciosas em nossos rostos. Um filme passou em minha cabeça com tudo o que vivi para estar ali e em questão de segundos tive uma certeza: o caminho não acaba em Santiago. É de lá que ele começa para o resto de nossas vidas.

Antes mesmo de partir já sabíamos que não seríamos heróis ou coisa do tipo pelo desprendimento em andar 770 quilômetros a pé. Depois de ter pisado as terras mágicas do Caminho, estamos certos de que a humildade em pular duas etapas e andar 50 quilômetros de ônibus foi a melhor decisão.

Desejamos e realizamos nosso desejo. Por 32 dias vivemos uma experiência maravilhosa e conquistamos a amizade de pessoas especiais como Gisele, Rosangela, Railson, Orlando, Adriana, Luciene, Ricardo, Marquesete e Adriano, do lado de cá. Do lado de lá, de Carlos e Joan. Cada um ao seu jeito, 'pasito en pasito', serviram de inspiração e nos ajudaram a ser maiores do que os obstáculos. Gracias, muchas, a todos. E buen camino, siempre.       









2 comentários:

  1. Duli que lindo esse post! Parece até que da pra sentir um pouco do que vcs viveram, só pelas palavras de vcs..! Sou sua fã, e to no aguardo do livro! heheheh Beijos Thi

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