sexta-feira, 2 de março de 2012

Santos Dumont: mineiro, brasileiro, genial

Optamos por apresentar o local de nascimento de Santos Dumont pela matéria "A casa de Cabangu", publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional em abril de 2009. O texto, assinado pela xará Juliana Barreto Farias, está disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/a-casa-de-cabangu.

Você já ouviu falar do Museu de Santos Dumont? Não o de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, mas o que fica na cidade onde ele nasceu, passou os primeiros anos da infância e ainda morou no fim da vida. Quase escondido dos olhos do público, a cerca de 220 quilômetros de Belo Horizonte, a Fazenda Cabangu, no município mineiro de Santos Dumont, guarda um acervo precioso do genial inventor brasileiro.


A família Dumont chegou àquela região da Serra da Mantiqueira em 1872, quando o engenheiro Henrique Dumont foi comandar as obras de construção da estrada de ferro que cortava os vilarejos de João Gomes (atual Santos Dumont) e João Aires. Um ano depois de instalada no lugar conhecido como Cabangu, nasceu Alberto, sexto filho do casal Henrique e Francisca. Mas os Dumont só ficaram ali até 1875. E a casa virou um simples ponto de apoio para os trabalhadores da ferrovia.


Até que, em 1919, Alberto Santos Dumont, já famoso por seus inventos, decidiu retornar à casa natal. Ganhou o imóvel de presente do governo e se tornou um verdadeiro criador de gado. Em meados da década de 1920, teve que deixar Cabangu para tratar da saúde na Europa. Mesmo distante, não escondia o desejo de que o local fosse preservado e doado à nação. Depois de sua morte, em 1932, a população do vilarejo atendeu ao último pedido do filho ilustre. Uma comissão liderada pelo jornalista Oswaldo Castelo Branco se empenhou na transformação da velha residência num museu. Mas o projeto só saiu do papel muito tempo depois. Embora criado pelo governo de Minas em 1956, o parque histórico só foi oficialmente inaugurado em 1973.


À frente da instituição, Castelo Branco recuperou peças antigas e adquiriu outras tantas em vários cantos do país. No interior da casa e ao redor do parque, espalhou réplicas de aviões, o motor original do primeiro balão, cama, escrivaninha, cartola, óculos e mais objetos do aviador.  Mas nem tudo ficou no Cabangu. “Como o terreno da fazenda é muito úmido, não havia condições de deixar ali livros de estudo, cartas e fotografias. Essa documentação ficou até 2006 num quarto em nossa casa, onde, durante muito tempo, não tivemos permissão para entrar”, conta Mônica Castelo Branco, filha do jornalista e atual coordenadora do museu.


E seu pai tinha mesmo motivos para não deixar os filhos pequenos brincarem ali. No meio daquele acervo havia registros preciosos, como sete cartelas de papelão com seqüências de 12 a 18 fotografias dos inventos de Santos Dumont, organizadas pelo próprio aviador. “Esses documentos esclarecem detalhes das peças que, mesmo com a ajuda do Museu Paulista e de outras instituições, não tínhamos conseguido resolver”, afirma João Luiz Musa, fotógrafo e professor da USP, que usou essa documentação no livro Alberto Santos Dumont: eu naveguei pelo ar.


Mesmo com tantos atrativos, o lugar – que conta com recursos municipais e suporte do Ministério da Aeronáutica – ainda continua pouco conhecido. Mônica Castelo Branco acredita que a distância (são 16 quilômetros do centro da cidade até lá) e o pouco incentivo ao turismo no município contribuem para isso. “As próprias pessoas daqui quase não conhecem o museu. E nossos administradores ainda não vêem a cidade como um atrativo histórico”. João Musa acha que falta é investimento do governo. “Em qualquer lugar do mundo, alguém como Santos Dumont teria um enorme apoio”.

Estação Cabangu da Estrada de Ferro Central do Brasil; este trecho liga os municípios de Santos Dumont e Barbacena
Na pressa de visitar o museu esquecemos de assinar o livro de visitas
À direita, sobre o balcão, uma maquete da "Encantada", a casa do inventor em Petrópolis
Aqui, fotografias da fazenda, um marcador de gado e reproduções de cartas enviadas ao empregado João, que cuidava de tudo na ausência de Dumont
Santos Dumont mandou fazer um lago com chafariz em frente à casa; em uma das cartas enviadas ao empregado, ele desenha a obra com detalhes
Mais cartas, mais ordens para o João
Santos=Dumont assinava assim, com o sinal de igual entre os sobrenomes brasileiro e francês, para igualar as duas origens
Vista lateral da casa
Santos Dumont foi emancipado pelo pai em fevereiro de 1892, no Cartório do 3° Tabelião de Notas de São Paulo, que lhe entrega títulos no valor de muitas centenas de contos. "Tenho ainda alguns anos de vida; quero ver como você se conduz: vai para Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz. Vamos ver se você se faz um homem; prefiro que não se faça doutor; em Paris, com o auxílio de nossos primos, você procurará um especialista em física, química, mecânica, eletricidade, etc., estude essas matérias e não se esqueça que o futuro do mundo está na mecânica. Você não precisa pensar em ganhar a vida; eu lhe deixarei o necessário para viver..."




Aqui, uma homenagem ao voo do "Brasil", primeiro balão-livre esférico, feito por Santos Dumont em 14 de julho de 1898, em Paris; a obra, em biscuit, é da artista plástica e peregrina de Santiago de Compostela Regina Bert


Um antigo avião da FAB "recepciona" os visitantes dos pavilhões, onde há mais fotografias e documentos sobre a obra de Santos Dumont




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